Apolo Oliva Filho retorna à Pátria Espiritual
Nascido em 27 de julho de 1925, na cidade de Guaíra, interior de São Paulo, Apolo Oliva Filho foi uma pessoa que sempre vamos nos lembrar com saudade. Sua existência foi toda ela dedicada ao trabalho profissional, à vida em família e à divulgação da Doutrina Espírita, notadamente no seu aspecto religioso.
Formado em Ciências Econômicas, foi funcionário da Prefeitura da Cidade de São Paulo, da Câmara dos Vereadores e do Tribunal de Contas do Município de São Paulo. Na Ordem dos Economistas do Brasil, Apolo desempenhou a função de Secretário Geral, na gestão 1959 / 1960. Foi professor de contabilidade na Escola de Ciências Contábeis Álvares Penteado. Foi membro do Conselho de Administração do Instituto Américo Bairral de Psiquiatria, em Itapira (SP). É autor da biografia “A Vida Surpreendente de Batuíra”.
Casado com Neyde Gandolfi Oliva com quem teve quatro filhos: Eurídice, formada em pedagogia; Ricardo, em medicina; Apolo Neto, em geologia e Gláucius, em física; além de mais de uma dezena de netos. Após residir na cidade de São Paulo por muitos anos, na última década do século passado mudou-se para a importante cidade de São Carlos, interior de São Paulo, onde viveu até sua desencarnação ocorrida em 06 de novembro de 2012.
Como foi sua conversão ao Espiritismo?
Esta é uma pergunta que normalmente fazemos às pessoas que militam na Doutrina. Em geral, todos têm uma história curiosa para contar. Nosso amigo Apolo não fugiu à regra. Em 1944, solteiro ainda, dirigia-se à Igreja católica, para o culto dominical de praxe, quando a caminho se deparou com uma faixa, informando que na Federação Espírita do Estado de São Paulo - FEESP haveria uma palestra, que seria proferida pelo orador espírita, Sr. Pedro de Camargo Vinícius. Atraído por aquela manchete, Apolo resolveu atender à sua intuição e alterou seus planos. Foi para a Federação.
Na época, o mundo estava vivendo o impacto da II Guerra Mundial. Na mente do Apolo fervilhavam os ideais patrióticos, cobrando-lhe uma atitude. No seu entendimento o Brasil deveria ir à Guerra. Entretanto, para seu desconforto, Vinícius transmitia uma mensagem exatamente oposta ao seu raciocínio, conscientizando os ouvintes de que, se hoje somos filhos desta pátria, em existências passadas poderíamos ter vivido em outras nações ou nelas venhamos a viver no futuro; disse que o homem corajoso não é necessariamente aquele que vai à guerra, mas o que vai para o Estado do Mato Grosso.
O eclético orador dizia em sua magistral pregação, que a religião estava equivocada ao abençoar as armas de um País, para bombardear e matar irmãos de outras nações. Isso produziu no Apolo uma revolução em suas ideias, e a partir daquele dia todos os domingos, ia à FEESP para ouvir Vinícius. Assim, o Espiritismo ganhava mais um aliado na divulgação de sua mensagem consoladora e libertadora do jugo do materialismo.
Na Federação Espírita Apolo foi indicado pelo próprio Vinícius – já com a idade avançada - para substituí- lo nas prédicas de domingo. Tal fato constituiu-se para ele num motivo de muita alegria. Na época, a Federação contava com um quadro de oradores formado de homens importantes como Emílio Manso Vieira, Dr. Ary Lex e Dr. Luiz Monteiro de Barros e outros. Apolo representava a nova promessa, a continuidade dos comentários brilhantes de seu antecessor em torno do Evangelho do Mestre.
Convidado para integrar a diretoria executiva da FEESP, ocupou o cargo de primeiro secretário e mais tarde, membro do Conselho. Na União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo - USE, trabalhou por cerca de 20 anos, tendo ocupado os cargos de 1º Secretário e depois Secretário Geral. Foi, portanto, um homem muito atuante no Movimento Espírita de Unificação no Estado de São Paulo. Suas palestras versavam quase sempre sobre temas evangélicos, ressaltando a beleza da Boa Nova trazida pelo Mestre Jesus. Dizia humilde e com sorriso discreto, que a parte científica ele deixava para ser comentada pela sua companheira, Neyde, e seu filho Gláucius, físico e cientista emérito.
Apolo era um homem tímido, objetivo, de poucas palavras, que preferia ir direto ao assunto. Escutava o interlocutor com extrema agudeza de espírito, procurando entender-lhe a mensagem, para se pronunciar depois. Nas suas conferências evangélicas, podíamos observar nitidamente seu olhar voltado para o alto e para um dos lados, como a buscar a inspiração dos Benfeitores Espirituais, para que sua palavra fluísse serena, fiel aos postulados espíritas, penetrando assim no coração dos seus ouvintes.
Ligação com o Grupo Espírita Batuíra
Para compreender o vínculo do Prof. Apolo com o Grupo Espírita Batuíra, temos de retroceder na História, e lembrar seu 1º contato, em 1950, com o Sr. Spartaco Ghilardi, médium de qualidades excepcionais.
Semanalmente, um grupo de espíritas, entre os quais estava o Prof. Apolo, reunia-se na casa do médium para estudar e praticar o Espiritismo. Mais tarde, essas reuniões foram transferidas para o Centro Beneficente José de Andrade, bairro das Perdizes, S. Paulo. Após a reunião, algumas vezes o Sr. Spartaco e esposa iam para a casa do Prof. Apolo para um colóquio fraterno.
O Grupo Espírita Batuíra (GEB) foi fundado em 1964, por orientação do inesquecível médium Francisco C. Xavier. No GEB, Apolo trabalhou com o Sr. Spartaco, assessorando-o na área doutrinária, juntamente com sua esposa, dona Neyde, e mais tarde, sua filha Eurídice, que se dedicava ao ensino da moral cristã às criancinhas.
O papel desempenhado pelo Prof. Apolo, no Grupo Espírita Batuíra foi inestimável. Na Assembléia Geral Extraordinária de 15 de janeiro de 1964, ele foi eleito presidente da Diretoria Provisória; Djalma de Deus e Silva, secretário geral; e Savério Latorre, tesoureiro. A equipe teve como missão redigir o Estatuto da instituição e conseguir uma casa, na qual as tarefas pudessem ser realizadas.
Em 21 de março do mesmo ano, foi eleita a primeira diretoria executiva da casa, por um período de três anos. Nessa gestão, o digno professor ocupou o cargo de diretor de Relações Públicas e Palestras. Depois de alguns anos de trabalho intenso na USE, o Prof. Apolo retorna em 1970, à diretoria do GEB, na qual atuou por um período de 18 anos, tendo ocupado os cargos de 2º secretário (uma gestão), 1º secretário (uma gestão) e 1º Vice-Presidente (quatro gestões). Foi também, um dos oradores oficiais nas reuniões evangélicas das 4ª feiras, ao lado de Dr. Ary Lex, Dr. Antônio Ferreira Filho, Dr. Marco Antônio P. dos Santos e outros.
Nós, que tivemos a graça de privar da amizade do Prof. Apolo por alguns anos, podemos afirmar que ele foi, sem dúvida, um homem íntegro e direcionado para a divulgação da Doutrina. Ao mudar-se para São Carlos, incumbiu-nos da tarefa de assessorar o Sr. Spartaco, em seu lugar, o que fizemos até a desencarnação do médium em 2004.
Gostaríamos de registrar ainda, que um dos sonhos revelado pelo Prof. Apolo em entrevista concedida a este boletim, edição nº 7, janeiro de 1998, era: “poder acordar lúcido no mundo espiritual e encontrar lá os companheiros queridos de jornada”. Com certeza, caro Professor, este seu desejo foi atendido pela Espiritualidade Maior. Muitos de seus amigos enfileiraram-se para lhe dar as boas-vindas. Porém, outro sonho que você não desejou, mas que por desígnio de Deus, terminou acontecendo, foi o de encontrar do outro lado da vida, sua dedicada esposa, recebendo-o com muita alegria e amor.
Texto de Geraldo Ribeiro - Publicado no Batuíra Jornal nº 96, Edição Novembro/Dezembro de 2012