50 anos acolhendo mães e filhos
Curso de Orientação Maternal celebra cinco décadas com mais de 16 mil alunas
A barriga de 7 meses desponta... vem aí uma menininha, que vai se chamar Melina Gabriela... A futura mamãe descobriu que estava grávida aos 17 anos.
Laís dos Santos Araújo é uma das alunas da atual turma do Curso de Orientação Maternal, programa do Grupo Espírita Batuíra que está completando 50 anos de atendimento às mulheres de Vila Brasilândia. Em nossa casa, recebem as primeiras lições de como cuidar de seus bebês, e também de si, de sua saúde, de seu corpo, nesta nova fase da vida. Claro, são amparadas em suas necessidades materiais imediatas: ao final do curso, recebem um enxoval caprichado para o bebê.
Trata-se de uma oportunidade preciosa para muitas jovens mulheres que eventualmente até já tiveram contato com outros bebês – irmãos, primos, vizinhos, sobrinhos. Mas, no curso, aprendem técnicas de cuidado, higiene, amamentação e, também, conceitos importantes, como a formação de um lar saudável, o papel da família, educação dos filhos etc. São nove aulas (uma por semana) em que comparecem à Unidade Dona Aninha.
Laís está aprendendo muito e adorando a chance de estar no curso: “Eu olhava mulheres grávidas e sonhava com a minha vez, então de certa forma planejei, não foi algo inesperado. Eu ajudei a cuidar da minha irmã mais nova e também dos meus sobrinhos, tenho experiência, mas estou aprendendo coisas novas. O enxoval ao final será muito útil, porque eu estou desempregada, apenas meu marido trabalha como auxiliar de pedreiro.”
Um olhar sobre esse trabalho nos ajuda a compreender as mudanças de costumes na sociedade, as conquistas e os desafios das jovens do nosso tempo e como tudo isso se relaciona com uma realidade tão precária do ponto de vista financeiro, num dos bairros mais pobres da cidade, como é a Vila Brasilândia.
A atual coordenadora do Curso de Orientação Maternal, Mara Colloca, faz uma radiografia do momento:
“Nota-se o crescente número de gestantes adolescentes! Assim, em 2007 foi criado o ‘Vou Ser Mamãe’, um grupo especialmente dirigido às jovens gestantes, com o objetivo de dar um entendimento melhor ao momento que vivem - a gravidez e a responsabilidade que ela representa.”
Mara Colloca ladeada por Cristina e Karin do Grupo Vou Ser Mamãe!
Mãezinhas de ontem e de hoje
O Curso de Orientação Maternal surge oficialmente em 1972, mas há informações de que, mesmo antes, algumas voluntárias se mobilizavam em socorro de futuras mães do bairro.
Quando o programa foi criado, ficou sob a supervisão de Ana Segundo, a querida Dona Aninha, que dá nome à nossa unidade em Brasilândia, e que tinha como auxiliar Dona Elizabeth Tóffoli. Aulas, conversas, o lanche da tarde, os filhos mais velhos sendo cuidados por outras voluntárias... tudo isso fez parte daqueles primeiros tempos e, já no primeiro ano de realização, o curso teve 40 participantes.
Hoje, 50 anos depois, 16.010 mulheres passaram por esse programa tão importante, que colabora para que a chegada de um novo ser entre nós seja um momento de alegria e esperança.
Ana Lucia Silva de Lira, de 52 anos, fez o curso em 1998, quando estava grávida de Vitor. Ela já tinha a Luisa, hoje com 27. Ana comparecia às reuniõesda Fluidoterapia, quando soube da iniciativa da casa em favor das gestantes e se inscreveu. Era um momento familiar complicado para ela:
“Minha mãe havia falecido e eu precisava sentir-me acolhida. Além disso, meu marido enfrentava a falência da distribuidora de doces que tínhamos, e que era fundamental no sustento da família. Embora eu tivesse ajudado a cuidar de todos os meus irmãos mais novos e já fosse mãe, aprendi muito no curso a respeito de amamentação como atender bem meu filho. O enxoval também veio em boa hora. E devo dizer que adorava as reuniões! Estar ali com outras mulheres, trocando experiências... tudo me fez muito bem.”
De assistida, Ana Lucia passou a voluntária. Quando o filho atingiu um ano de idade, ela começou a desempenhar atividades no Grupo Espírita Batuíra, como recepcionista da UTE (Unidade de Terapia Espiritual), monitora na Escola de Moral Cristã e, atualmente, dá aulas de artesanato.
Durante a pandemia
Nos primeiros dois anos da pandemia, as aulas para gestantes precisaram ser suspensas, atendendo às regras de distanciamento. Porém, Mara Colloca e as demais participantes do trabalho não ficaram paradas.
Duzentos e noventa enxovais foram entregues às mães que bateram à nossa porta, precisando de ajuda. Além disso, aproveitaram o tempo para reciclar as aulas, adequando ideias às novas realidades.
O trabalho buscou atualizar temas como parto, amamentação, planejamento familiar consciente e tantos outros assuntos, utilizando novas ferramentas pedagógicas como vídeos e dados disponibilizados por diferentes fontes, como, por exemplo, o Ministério da Saúde.
Definitivamente, cinco décadas depois de sua fundação, o Curso de Orientação Maternal tem um passado e um presente - e o futuro está sendo planejado, como diz Mara:
“Assim caminha esse trabalho, de que tenho a honra de participar e conduzir, para dar continuidade a todo o empenho depositado pelas voluntárias de 50 anos atrás! Um trabalho que me inspira para que tenhamos jovens e mulheres mais conhecedoras de si mesmas.
Da esquerda para a direita: Jade, Marcia, Adriana, Sandra, Mara, Marli e Cleuza fazem parte da equipe atual de voluntárias do Curso de Orientação Maternal da Unidade Dona Aninha da Vila Brasilândia.
- Texto de Simone Queiroz
- Publicado no Batuíra Jornal nº 148