Lar Transitório completa mais um ciclo de amor
Já se passaram 19 anos desde que foi criada a Casa de Cuidados Lar Transitório Batuíra, em 29 de agosto de 2002. Nesse período, 1.565 moradores em situação de rua recém-saídos de cirurgias hospitalares foram acolhidos ali por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, nutricionistas, assistentes sociais, e outros voluntários, nas áreas de música e artesanato, que conseguiram dar o que todo convalescente necessita: cuidados e afeto. Um trabalho exemplar que consegue oferecer o ambiente acolhedor de um lar e criar condições, não só para a recuperação física do assistido, mas também para a sua reintegração ao convívio social.
- Não foram poucas as dificuldades que passamos nesses anos, mas elas nos trouxeram experiências que nos permitiram chegar hoje a um momento de maturidade. Quando olho para trás e recordo o dia da inauguração do Lar, lembro nitidamente que me via numa estrada que estava começando. Era uma jornada onde tudo podia acontecer. Agora, me vejo nessa estrada com tanto percurso já percorrido e isso dá serenidade e confiança - explica o Dr. Eduardo Barato, que é o diretor do Lar desde que foi inaugurado.
Segundo ele, todos desafios enfrentados, como dificuldades financeiras, influenciações espirituais que tentavam desestabilizar os trabalhos e até desentendimentos entre os internos, foram superados com confiança e grande proteção da espiritualidade. A harmonia e o entendimento conquistados ao longo desses anos permitiram, em sua opinião, passar pela pandemia de forma equilibrada, mantendo os atendimentos médicos com profissionais e voluntários. Só algumas atividades, como a fluidoterapia e reuniões clínicas e também as de desobsessão, passaram a ser remotas.
O Dr. Eduardo destaca que desde que foi criado, o Grupo Espírita Batuíra tinha recebido a orientação da espiritualidade de criar um local para atender pessoas operadas que não tivessem para onde ir. Inicialmente, esse trabalho seria feito em Vila Brasilândia e destinado a homens e mulheres, mas o projeto acabou sendo abandonado e quando iria ser retomado foi feita a doação do terreno na Bela Vista pelo sr. José Lucas Neto.
Nesse local, o Lar foi construído, e acabou sendo destinado somente a homens, que representam mais de 90% dos moradores em situação de rua. Na época, o sr. Spartaco Ghilardi, fundador do GEB, disse a todos que se envolveram nesse trabalho, que eles estavam assinando um contrato em branco. Tinha início, mas ninguém sabia quando terminaria ou a quem passariam o bastão.
- Na época, não tínhamos a percepção do tamanho do trabalho. Hoje, com o desenvolvimento das sessões de desobsessão percebemos a dimensão do que é feito lá, pois os assistidos do plano físico chegam com seus acompanhantes espirituais. Para cada leito que temos na unidade física, na espiritualidade existem vários leitos dando atendimento aos necessitados desencarnados. Isso nos dá uma visão muito mais ampla do que a que tínhamos no início. Com esse trabalho, o Lar está fazendo o saneamento da região onde está instalado. Ele tem esse papel de iluminar a região e trazer um ambiente mais harmônico, auxiliando as famílias que vivem numa região tão sofrida - afirma o médico.
Em sua opinião, todo dia é possível aprender com o trabalho desenvolvido no Lar, e não há o que temer desde que o grupo continue firme nos mesmos propósitos indicados pela espiritualidade ao sr. Spartaco: atender aos necessitados que não têm quem cuide deles quando estão mais fragilizados por passarem por traumas. E é isso que o Lar faz. Dá acolhimento a quem necessita.
- Cuidamos e plantamos sementes oferecidas pela Doutrina Espírita. Semeamos amor para que eles possam repensar suas vidas e, num momento traumático, aproveitem para largar do álcool e das drogas, e se reconciliem com os seus familiares. A partir daí, a escolha é da pessoa. Se ela não estiver preparada para fazer a mudança agora, a semente foi lançada e pode brotar mais lá na frente - explica.
Essa é também a opinião de Rosa Zulli, assistente social, e gerente de Serviço do Lar. Segundo ela, em um ambiente saudável e de muita dedicação e respeito, onde atuam 11 profissionais e 40 voluntários, é possível ao assistido resgatar sua autonomia, além de restaurar sua autoestima, num processo em que reavalia e reorganiza a sua vida através de atendimentos psicossociais, de saúde e atividades socioeducativas.
- Meu sentimento é de imensa gratidão pela oportunidade de participar desde o início desse projeto. Além da realização profissional por um trabalho tão completo e de tanta qualidade, existe o mais importante que é todo o aprendizado dos verdadeiros valores da vida - pondera.
Bolo de aniversário
Em festa de aniversário não pode faltar o tradicional bolo, que foi servido para os presentes.
A comemoração simples e cheia de afeto e amor se deu no domingo, dia 29 de agosto, às 9 horas da manhã, de forma híbrida: presencialmente reuniu os assistidos, beneméritos e equipe responsável pelo Lar Transitório.
Pela plataforma online os colaboradores, amigos, diretores e conselheiros do GEB puderam acompanhar a celebração de mais um ano de trabalho.
Os assistidos puderam seguir pela plataforma especial a presença dos convidados online.
- Texto de Rita Cirne
- Publicado no Batuíra Jornal nº 145