Mocidade 50 anos: Escola de Almas
27 de maio de 1973. Nesta data, o Grupo Espírita Batuíra dava mais um passo em seu compromisso de divulgar a Doutrina Espírita, auxiliando encarnados e desencarnados em nossa grande missão de vida: a reforma íntima.
Jovens participantes do grupo atual da Mocidade, que se divide entre encontros presenciais e virtuais todos os sábados.
Atualmente, as reuniões da Mocidade acontecem aos sábados, das 18h às 19h30. Os participantes têm a partir dos 16 anos. A maioria chega depois de integrar a Educação Espírita Infantojuvenil e a pré-Mocidade. O principal requisito, portanto, é o desejo de estudar a Doutrina Espírita e, à luz dela, refletir sobre tantos temas inquietantes nessa fase da vida.
O atual coordenador é Daniel Steagall, 29 anos. As primeiras lições do Espiritismo, ele aprendeu em casa, já que é a quarta geração de espíritas na família, e no próprio Batuíra, onde já vinha na barriga da mãe. Daniel acredita que manter alta a participação é mais fácil na prática do que parecia na teoria: - As pessoas hoje estão buscando se instruir à luz do Espiritismo e percebo que muitos jovens após a Mocidade se engajam em outros trabalhos nas áreas doutrinária e assistencial, como o COEEM, o Curso Básico e Brasa Jovem (em Brasilândia). Para mim, ser coordenador da Mocidade é uma oportunidade única para exercitar a disciplina e para desenvolver novos estudos de temas doutrinários. Também representa trabalho, amizade e crescimento.
Além das reuniões semanais, a turma da Mocidade colabora com o Brasa Jovem, projeto desenvolvido na Unidade Dona Aninha, em Vila Brasilândia, em que os participantes têm oficinas que visam à disseminação de valores éticos e cristãos, e estimulam o engajamento em ações de melhoria do bairro e da sociedade de modo geral.
Atrair os jovens para o estudo da Doutrina Espírita em tempos de internet, de redes sociais abundantes e, mais recentemente, da nascente inteligência artificial exige uma metodologia especial, nada fácil e diversa. A Mocidade Espírita do GEB trabalha com esse desafio imposto pelo século 21.
As portas estão sempre abertas a novos integrantes, mesmo de outros estados e países, já que é possível acompanhar as reuniões também online.
Um pouco de história:
Até 1973, os jovens frequentadores do Grupo Espírita Batuíra se reuniam para o estudo da Doutrina sob orientação do Departamento de Infância e Juventude, dirigido por Wanda do Nascimento Santos. Foi dela a ideia de criar um segmento especial para os que atingiam a maioridade. A proposta foi logo aprovada por Spartaco Ghilardi, médium notável e principal fundador de nossa Casa, que, ao lado da esposa Zita, esteve presente na cerimônia de fundação. Aproximadamente quarenta jovens participaram do evento inaugural - entre eles, Geraldo Ribeiro, atualmente 1º. vice-presidente do GEB, e que havia sido convidado por Wanda para ser o primeiro coordenador da Mocidade.
Entrevistas
Geraldo Ribeiro da Silva, atual primeiro vice-presidente e diretor de doutrina do GEB, foi o primeiro coordenador da Mocidade. Nesta entrevista ele relembra os primeiros passos da criação da Mocidade.
BJ: O que foi combinado entre D. Wanda Santos, Spartaco e você, na criação da Mocidade?
GR: É bom esclarecer que minha primeira tarefa no GEB foi dar aula de moral cristã para as criancinhas. Depois, lembro que, num fim de semana, D. Wanda Santos – diretora da Escola de Moral Cristã - promoveu um Encontro de Evangelizadores, visando ao aperfeiçoamento da equipe. Na oportunidade, ela me pediu para falar sobre o tema Comunicação Humana. No final do encontro, ela me chamou de lado e me convidou para criar e dirigir a Mocidade, pois, segundo ela, os jovens precisavam de um espaço para estudar a Doutrina Espírita.
A proposta foi levada para o Sr. Spartaco, que a acolheu com entusiasmo. Aí, entrou no grupo mais uma colaboradora, D. Neyde Oliva (esposa do prof. Apolo). D. Wanda, D. Neyde e o Sr. Spartaco definiram as diretrizes para o funcionamento da Mocidade. Uma dessas diretrizes era ter pessoas mais experientes, cooperando com os jovens no estudo da Doutrina Espírita e do Evangelho. Eu fiquei responsável pelo planejamento, definindo objetivos, temas a serem estudados, sequência; organização do departamento em setores (secretaria, estudo, eventos sociais, arte etc.), de modo a aproveitar o talento de cada um deles dentro do departamento.
Só depois de tudo preparado, é que a proposta foi levada para apreciação e aprovação da diretoria do GEB. A reunião foi presidida pelo Dr. Reynaldo K. Busch, 1º vice-presidente. Lembro que o Douglas Bellini, 2º vice-presidente, estava presente, e enalteceu a criação do novo departamento, enxergando-o como um meio de preparar jovens para o futuro da Casa.
BJ: O Espiritismo está “envelhecendo”, dizem, juntamente com seus frequentadores. Nesse cenário, qual é a importância da mocidade?
GR: Embora o cenário mostre um pouco isso, que os mais velhos estão no poder ou na direção de muitos trabalhos, acho que os jovens estão tendo oportunidades de trabalhar dentro das Casas Espíritas. Hoje, em nossa diretoria, temos vários diretores que outrora participaram da Mocidade. Eu, por exemplo, sou um deles. Meu filho Gabriel, ex-diretor da Mocidade, é atualmente diretor jurídico; auxiliando-o na área, tem a Marina Ginjo, também ex-coordenadora. Dr. Marco Antonio é presidente do Conselho de Administração. Dr. Ricardo Pastori é membro do Conselho etc.
Guto Melani, Ricardo Pastori, Paulo Sérgio, Marco Antonio e Geraldo Ribeiro: coordenadores da Mocidade em várias épocas.
BJ: O que mudou na sua vida ter sido o primeiro coordenador? Como isso marcou sua trajetória de estudo da Doutrina e no GEB?
GR: Mudou muita coisa. Tive que estudar mais, pois sabia que estava diante de um grupo forte e já conhecedor do Espiritismo. Vários eram estudantes universitários e oriundos de famílias espíritas. Eu me considerava pouco preparado doutrinariamente para assumir uma função de tanta responsabilidade. Além de estudar mais, tive que ouvir mais e não me colocar numa condição superior. Percebi que administrando o grupo com bom senso, humildade e aproveitando o potencial de cada um, os resultados seriam bons para todos. Dentro do GEB, passei a ter mais visibilidade, pois o coordenador da Mocidade tinha, na época, assento nas reuniões de diretoria. Esse fato me ajudou a ter mais consciência do papel das instituições espíritas no estudo, na divulgação e prática da Doutrina Espírita. Procurei, como coordenador da Mocidade, inserir isso nos movimentos de mocidades espíritas da região; acho que deu bons frutos. Hoje, a Mocidade continua desenvolvendo sua função de preparar jovens para o futuro. Como membros da diretoria do GEB, devemos apostar no potencial jovem e não querer nos perpetuar nos cargos.
Jovens sempre motivados e integrados nos trabalhos assistenciais realizados pelo Grupo Espírita Batuíra.
O segundo coordenador da Mocidade Espírita Batuíra, com mandato a partir de 1980, foi o médico Marco Antonio Pereira dos Santos. Atualmente, além de palestrante, é o presidente do Conselho de Administração do Grupo Espírita Batuíra. Quando a Mocidade foi criada, em 1973, ele já era estudante de medicina. Ao se formar, assumiu a coordenação do grupo, sucedendo Geraldo Ribeiro da Silva. Acompanhe a entrevista que o Batuíra Jornal fez com o Dr. Marco Antonio sobre aqueles primeiros tempos, os desafios atuais e a importância da participação de jovens nos grupos de estudo.
BJ: Como segundo coordenador da Mocidade, qual foi seu papel/orientação na época?
Marco: De 1973, quando a Mocidade foi fundada, a 1979, o período do Geraldo na coordenação coincidiu com a minha formação médica. Eu vinha a São Paulo às vezes, nos fins de semana, então poderia frequentar ou não a Mocidade, mas estava fazendo curso médico que me exigia bastante trabalho nos hospitais para minha formação. O trabalho do Geraldo foi muito importante. Nós tínhamos mais de 30 jovens nessa época e foram anos importantes na estruturação da Mocidade na casa, aprovada pelo seu Spartaco. Em 1980, já trabalhando como residente no Hospital das Clínicas, e já casado, eu vim pra São Paulo definitivamente. Aí, até 1985, eu assumi como o segundo coordenador da Mocidade Espírita Batuíra. Minha ênfase, na época, foi estudar, além das obras clássicas da Doutrina Espírita, os livros de André Luiz. Como médico, eu atraí também alguns outros colegas da área médica para o grupo. Estudamos Missionários da Luz, Nos Domínios da Mediunidade, Vida e Sexo, que o Chico Xavier tinha acabado de escrever em 1979.
BJ: Como se deu a escolha de seu nome para suceder o Geraldo e como se viu diante dessa responsabilidade?
Marco: Eu já era vice-coordenador junto com o Geraldo e esse trabalho conjunto, no primeiro mandato dele, era supervisionado pelo seu Spartaco. Foi natural assumir o cargo assim que eu voltei pra São Paulo e casei já com a Cristina. Minha mãe (Wanda Santos), sendo responsável pela evangelização nesse período, claro, confiava que nós, da família, também pudéssemos ter alguma atividade dentro do Grupo Espírita Batuíra. Assim, eu já me achei com conhecimento doutrinário e também vivência pessoal para assumir o cargo. Depois, também meu irmão, Paulo Sérgio, foi coordenador do grupo.
BJ: Quais eram as demandas dos jovens naquela época que, na sua opinião, diferem das de hoje?
Marco: Na era pré-internet, o mundo tinha mais contato presencial. O movimento espírita tinha muitos jovens em várias casas. Tínhamos congressos da USE, palestras com vários oradores convidados. No Batuíra também. Criamos, na nossa gestão, o Mês do Moço, quando os jovens ficam responsáveis pelas palestras, tradição que se mantém até hoje, com o objetivo de dar visibilidade ao jovem na casa. Era, e ainda é, uma oportunidade para que eles treinassem como oradores, e iniciassem a experiência como divulgadores. A Mocidade era um elemento de reunião, nós éramos, além da Mocidade, também evangelizadores. A maioria de nós trabalhava também como evangelizador na Vila Brasilândia ou na Caiuby. Minha mãe, junto com dona Neide Oliva, sua filha Eurídice, sempre foram muitos dedicadas à educação infantil. Eu admirava a coragem daquelas senhoras nos anos 80 e 90, em Vila Brasilândia, com mais de quatrocentas crianças nas diferentes classes. Então, era preciso contar com a Mocidade na evangelização, nas distribuições. A gente fazia uma Mocidade muito dinâmica. Havia essa alegria de sairmos juntos, irmos ao cinema juntos, comíamos pizza no sábado à noite. Havia um contato mais próximo entre as pessoas e muitos casamentos, inclusive, ocorreram. Vários casais foram se formando ao longo do tempo dentro do Batuíra, eu mesmo e a Cristina, em função desse contato mais próximo.
BJ: Qual a importância de grupos de Mocidade não só no GEB, mas em casas espíritas?
Marco: É o momento único em que o jovem, antes de assumir seus compromissos profissionais, escolares, graduação ou pós-graduação, pode se aprofundar nos assuntos, nos textos, palestras, estudos. A disponibilidade se reduz à medida que os compromissos da vida vão chegando. Eu diria que o tempo da Mocidade é super importante. Alguns desses jovens já têm compromissos mediúnicos, então é um período que deve ser bem aproveitado.
BJ: De que forma os pais podem estimular os filhos a se engajarem em grupos de estudo religioso?
Marco: É um desafio difícil para os pais hoje. As próprias casas espíritas não têm uma metodologia que atraia o jovem em seus dilemas do dia a dia. Os veículos de comunicação bombardeiam 24 horas os nossos jovens com informações conflitantes com os nossos valores e práticas. Os amigos na escola têm grande influência sobre eles e essa influência contraria qualquer abordagem mais profunda dos conflitos próprios da adolescência. Portanto, os pais têm grande dificuldade em influenciar seus filhos na frequência da casa espírita.
Mocidade: celeiro de trabalhadores
Centenas de jovens integraram as turmas que se formaram ao longo dessas cinco décadas. Jovens que hoje são pais, avós, alguns já até regressaram à pátria espiritual. É por eles, pelos atuais frequentadores e todos os demais que ainda virão, que vale a pena comemorar esses 50 anos ininterruptos de trabalho e dedicação.
Daniel Steagall lembra os objetivos do grupo: - Além de preparar os jovens para lidar com as adversidades e as conquistas do cotidiano, e desenvolver laços de amizade e cumplicidade, é formar futuros trabalhadores da Casa Espírita.
E isso tem sido cumprido à risca. Muitos frequentadores se engajam em outras atividades como voluntários, conscientes da importância de servir e se dedicar ao próximo nas mais diferentes frentes que a casa oferece, abraçando o lema de nosso patrono Batuíra: trabalho, trabalho e trabalho.
Atualmente, só na Diretoria Executiva e no Conselho de Administração do GEB, há cinco ex-coordenadores da Mocidade:
- Marco Antonio Pereira dos Santos - presidente do Conselho de Administração
- Geraldo Ribeiro da Silva, 1º. vice-presidente executivo
- Ricardo Pastori – membro do Conselho de Administração
- Gabriel Branchini da Silva – diretor jurídico
- Marina Ginjo – assistente do Departamento Jurídico
Ricardo Pastori, médico, filho de um dos fundadores de nossa casa, Hermenegildo Pastori, passou pela Escola de Moral Cristã e entrou para a Mocidade aos 18 anos. Hoje, além de integrar o Conselho de Administração, faz parte da equipe médica e de desobsessão do Lar Transitório e da UTE (Unidade de Terapia Espiritual), na unidade Dona Aninha, em Vila Brasilândia. Também colabora com a equipe de palestrantes nas reuniões públicas na Unidade Spartaco Ghilardi, e nas da Fluidoterapia no Lar Transitório. Já atuou como evangelizador infantil e, ainda, como monitor do Curso Básico e do COEEM (Centro de Orientação, Estudo e Educação Mediúnica).
- A motivação para o engajamento dos jovens no trabalho voluntário advém, com certeza, do estudo da Doutrina, que desperta em nós o desejo de ser útil e solidário. Além disso, a Mocidade Batuíra exerceu profunda influência em mim, compartilhando com amigos muito queridos o estudo da Doutrina Espírita e as atividades assistenciais, onde identifiquei caminhos que seguiria em minha vida – conta o Dr. Ricardo.
Gabriel Branchini da Silva classifica o período em que esteve na Mocidade como “anos incríveis”, marcados por muita união e aprendizado: - Além dos encontros regulares, convidávamos oradores experientes, inclusive de fora do GEB, para debater com os jovens os temas espíritas mais complexos. Após o período na Mocidade, passei a fazer palestras até ser convidado, há mais de sete anos, para participar da Diretoria Executiva como assessor jurídico. Em 2021, assumi como diretor jurídico, após o desencarne do saudoso Tufi Jubran. Seja nas atividades doutrinária, seja no serviço assistencial, a Mocidade tem mostrado ao longo dos anos seu valor, sua alegria de participar, estudar, aprender e ensinar.
Luiz Augusto Melani, engenheiro mecânico, foi coordenador entre 1994 e 2000, e hoje é diretor de uma fábrica na Alemanha. Tem 50 anos. Mesmo distante fisicamente do GEB, conta que, em casa com a esposa e filhos, estuda o Espiritismo, um hábito herdado não só da própria família, mas também baseado em tudo o que aprendeu a amar desde os tempos da Mocidade. O trabalho voluntário também: - Trabalhei na escola... junto com minha mãe, Moema Melani, como monitor no COEEM e, ainda, no programa da Família Assistida, em Brasilândia. Mexe muito com meu coração lembrar o que fazíamos… Foram muitas lições de amor ao próximo, sem falar nas amizades sólidas que construí com pessoas maravilhosas, como Marquinho (Marco Antonio dos Santos), Geraldo (Geraldo Ribeiro da Silva) e Ricardo Pastori, que era o coordenador da Mocidade quando comecei a frequentá-la, e a quem depois eu sucedi. Que pessoa fantástica!
Outra trabalhadora que a Mocidade ajudou a formar para os trabalhos do GEB é Rosely Marotta, assessora das diretorias de Mediunidade e de Cultura Espírita, coordenadora do setor de Passes, além de palestrante e facilitadora do Grupo de Estudos do Evangelho Segundo o Espiritismo. Ela tinha 16 anos quando ingressou na Mocidade, na década de 1990. - Representou minha primeira oportunidade de estudo aprofundado da Doutrina Espírita. Foi pela Mocidade que recebi uma oportunidade de trabalho na "Casa de Batuíra". Eu e meu esposo, que também participava, fizemos amizades muito especiais que conservamos até hoje. Gratidão eterna.
Por tantos relatos, está claro que estimular a formação espírita-cristã em crianças e jovens é como pavimentar um caminho de estudo e trabalho, amparando mudanças de atitude e renovação de sentimentos.
É isso que o Grupo Espírita Batuíra vem fazendo há décadas, desde a fundação da Escola de Moral Cristã para crianças e, posteriormente, a Mocidade. Duas frentes de um projeto único, que teve e tem a colaboração de inúmeros voluntários e, sem dúvida, contou com a dedicação e o amor de Wanda do Nascimento Santos, que em 1970 tornou-se diretora do Departamento de Infância e Juventude.
Paulo Sergio Pereira dos Santos, um dos filhos de dona Wanda, que foi coordenador da Mocidade (1985-1991) e trabalhou como evangelizador infantil, faz uma reflexão de que as mocidades são hoje o grande desafio para o movimento espírita, ao observar-se o distanciamento dos jovens da casa espírita:
- As casas buscam soluções para retomá-los, reorientá-los e prepará-los para uma série de situações num mundo mais complexo do que eu vivi na minha juventude.
Destaca quantos trabalhadores foram formados nos projetos do GEB voltados a crianças e jovens que, na verdade, são um grande programa de evangelização das famílias.
- Desejo que o Grupo Espírita Batuíra, esta casa querida nossa, receba todas as vibrações positivas para que este projeto de Mocidade prossiga por um longo tempo. Aos que nos precederam, todo o nosso carinho e agradecimento pelo que nos ajudaram a construir.
Depoimentos
- Publicado na edição do Batuíra Jornal - Edição comemorativa dos 50 anos da Mocidade.