Lar Transitório: A volta aos bancos escolares
Para a professora Valéria Aparecida do Amaral a experiência tem o mesmo encanto.
As aulas de alfabetização são lúdicas, com jogos de rimas, caça-palavras, bingo de multiplicação, leitura de poesias. E incluem lição de casa, que nenhum dos 12 assistidos em tratamento na Casa deixa de fazer.
“Fiz uma sondagem com os assistidos e verifiquei que a maioria tinha frequentado a escola, mas desistido antes da quinta série. Elaborei um projeto lúdico, motivacional, que busca resgatar a autoestima. Eles aprendem e relembram língua portuguesa e matemática, além de refletirem sobre a importância de continuar aprendendo”, explica Valéria.
Valéria teve varíola quando pequena e frequentou uma escola especial, abandonou os estudos quando se casou, mas voltou a estudar e se formou em pedagogia no ano passado, aos 63 anos.
De acordo com a gerente Lar, Rosa, o reforço na alfabetização é importante para a reinserção social dos assistidos que estão em situação de exclusão social e são tratados após terem se submetido a intervenções cirúrgicas.
“Eles recebem aqui tratamento com psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais com o intuito de iniciarem um novo projeto de vida. O curso de alfabetização vem somar ao que já é feito em outras terapias”, afirma.
Com a palavra, os assistidos:
José Luis de Oliveira Jefferson da Silva
José Luiz de Oliveira, de 43 anos, está no Lar se recuperando da amputação de um dedo do pé esquerdo e um do pé direito. “Estudei até a quarta-série. Trabalhei com serralheria industrial, aprendendo a calcular e medir. Sabia ler, mas tenho dificuldade para escrever. E a primeira palavra que quero aprender a colocar no papel é gratidão”.
Reginaldo Costa Carvalho, de 32 anos, fraturou a perna esquerda e o braço esquerdo após cair do muro. “Estudei até a sexta série e agora estou relembrando português e matemática. É importante estar informado para fazer entrevistas de emprego”
Jefferson da Silva, de 39 anos, se recupera de uma fratura no calcanhar. “Estudei até o terceiro colegial, e frequento as aulas para relembrar e ajudar os outros. Está sendo de grande ajuda. Quero fazer faculdade de turismo no futuro”.
- Texto de Rita Cirne.
- Publicado no Batuíra Jornal nº 135.