Dialogando e aprendendo
Adalgisa propôs que os educadores fizessem uma reflexão profunda sobre o espaço de convivência onde se reúnem as crianças. E defendeu um relacionamento mais amoroso na família e na escola. Em sua opinião, para que o diálogo ocorra de fato é preciso que os dois lados consigam ouvir um ao outro e que os educadores consigam compreender o momento por que passa a criança.
“As lições fundamentais sobre essa convivência estão todas no Evangelho de Jesus, mas nós temos dificuldade em absorvê-las. A base é o amar ao próximo como a si mesmo. Mas nós esquecemos que o Evangelho não se estuda, mas se vive”, afirmou.
A pedagoga, que é autora dos livros “História de uma Escola”, “ A meta somos nós” e “Um bom começo”, destacou que uma das grandes dificuldades em se ouvir o outro reside no fato de que nós só ouvimos o que queremos ouvir e só aceitamos as ideias que se assemelham às nossas.
“Para mudar, precisamos questionar a herança cultural que recebemos. Precisamos de paciência e coragem para mudar os conceitos que temos. A maior parte das ideias e valores que temos nós não nascemos com elas. Elas nos foram ensinadas por nossos pais, avós, professores, etc. Para mudar temos que rever esses critérios que são do passado. Para que a gente consiga se relacionar de fato é preciso abrir espaço para conversar. E quando a conversação ocorre, os corações se reúnem”, explicou.
Foi com base em ideias como essas que Adalgisa fundou há 40 anos em Ribeirão Preto a Escola Interativa de ensino infantil e fundamental. Os resultados obtidos com os seus alunos foram tão positivos que a Interativa foi uma das 178 instituições educacionais brasileiras, entre organizações não governamentais, escolas públicas e particulares, reconhecidas pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), em 2015, como exemplo de inovação e criatividade na educação básica.
Na escola tradicional há, na opinião da pedagoga, arbitrariedade pela organização do currículo, onde tudo é decidido a priori, desconsiderando alunos e professores. “Há um autoritarismo centrado na pessoa do professor e que desqualifica o aluno no processo onde ele se desenvolve como ser humano”, avaliou.
Para Adalgisa, a sua escola busca uma nova forma de educar o ser humano. “Isso não ocorre de uma forma passiva, mas proporcionando condições para que a criança se desenvolva num espaço de convivência onde exercita sua humanização. As crianças têm liberdade para interagir e conviver, construindo, assim, o conhecimento. Temos hoje 80 alunos, mas não existem classes separando-os nem material apostilado. Existem níveis de ensino e o currículo é dado em oficinas que são escolhidas pelo aluno. É o aluno também que escolhe quando quer ser avaliado. A escola tem uma metodologia baseada no amor como fundamento principal do ser humano. Isso faz toda a diferença”, ressaltou, lembrando também que ela aceita alunos que têm dificuldades de relacionamento e de aprendizagem nas escolas tradicionais, sendo que alguns são autistas.
Segundo Sylvana Marisa Menezes Fioretti, uma das coordenadoras da Escola de Moral Cristã Pedro de Camargo – “Vinícius”, do GEB, as ideias apresentadas por Adalgisa aos pais e educadores incentivam a prática do diálogo e o respeito ao momento da criança com mudanças de atitude que não ocorrem de um dia para o outro, mas que precisam ser vivenciadas e amadurecidas. “Ela me fez pensar. Saí do encontro bastante motivada, acreditando que posso buscar novas formas de diálogo”, afirmou.
- Texto de Rita Cirne
Publicado no Batuíra Jornal nº 125 - Setembro e Outubro de 2017.